Tudo mudou
Num tempo muito distante, no Olimpo, Zeus mandou convocar uma reunião de emergência com todos os deuses e semi-deuses. Hermes logo se apressou em comunicar a todos que interrompessem o que estavam fazendo, por mais importante que fosse, porque Zeus havia convocado urgentemente uma reunião.
A sala de reuniões já estava preparada. Era uma sala ampla com uma mesa muito comprida e com muitas cadeiras à volta. A sua mobília requintada tornava aquele espaço mais agradável. Do tecto pendiam candeeiros de cristal e as paredes estavam decoradas com pinturas alusivas ao Olímpo.
A pouco e pouco a sala ia-se enchendo e ao mesmo tempo o burburinho de fundo ia aumentando. Estavam todos zangados porque achavam que era indecente convocar uma reunião sem mais nem menos e ainda por cima sem saberem o porquê.
Hermes tentava acalmá-los dizendo que deveria haver um bom motivo para aquela convocatória, mas, mesmo assim, continuavam gritando.
-Silencio! Silêncio! – gritava Zeus ao entrar na sala. – que barafunda é esta? Acham que eu vos ia chamar se não houvesse uma boa razão? Acham que me conseguem ouvir se continuarem a falar nesse tom? E não será uma falta de respeito enorme para com o vosso superior?
Fez-se silêncio.
- Agora sim! Agora tenho condições de falar. É o seguinte: Consta-me que se passa algo muito estranho na terra, os mortais encontram-se numa tristeza profunda e não consigo descobrir porquê.
- Isso é que é o assunto importante? – questionou Hefesto.
-O meu povo está descontente com alguma coisa que eu não sei o que é, e vocês não acham isso um assunto importante? Se eu não souber qual é o problema, não o vou conseguir resolver; logo, os que acreditam em mim vão ficar desapontados e vão deixar de acreditar no meu poder.
-Desse ponto de vista, o assunto torna-se mais importante. – disse Hesfesto - Os mortais têm de continuar a acreditar nos deuses olímpicos.
-Temos de descobrir o que os entristece! – exclamou Atena.
-Nós, os semi-deuses, somos os mais indicados, visto que conseguimos comunicar com eles mais facilmente. – acrescentou Hércules - Eles não gostam muito de nós, dizem que somos uma farsa, que de deuses não temos nada. Não sei se nos vão dizer por que motivo é que se encontram tristes. De qualquer forma vamos tentar.
Terminada a reunião, Hércules saiu da sala apressadamente e pôs-se a caminho do reino dos mortais.
Na terra, o ambiente era estranho. Os mortais encontravam-se a observar tudo à sua volta. Estavam como que desiludidos com o que viam. Seria esse o motivo de estarem tristes? Não havia motivo algum para não gostarem da paisagem, estava igual como sempre: rochas negras como o carvão e amarelas como o sol. Não se ouvia uma única voz, só o vento assobiava ao passar pelos mortais imóveis.
Hércules aproximou-se dos homens.
-O que vos entristece? – perguntou.
Mesmo sabendo que, provavelmente não responderiam, perguntou.
-É a paisagem. – respondeu um dos mortais.
-O que tem a paisagem? É a mesma de sempre!
-É precisamente isso que está errado. A paisagem é sempre a mesma, não se altera, são rochas e não passam disso. Queremos uma paisagem que nos provoque uma sensação de alegria e que tenha uma fragrância perfumada.
O semi-deus ficou espantado pelo facto de lhe terem respondido. Possivelmente apenas responderam por estarem numa profunda tristeza. De qualquer modo, responderam. - Teriam eles razão? Seriam as rochas assim tão monótonas? Possivelmente aqueles homens estavam certos, pois, apesar de bonitas, as rochas não se alteravam.
Então, o filho de Zeus foi logo a correr até ao Olimpo para dizer ao pai que já sabia por que motivo os mortais estavam tristes. Com a pressa, tropeçou numa pedra e esbarrou contra uma barraca onde vendiam vasos. Por sorte apenas um pequeno vaso de barro caiu no chão. Olhou para os cacos de barro, todos partidos em triângulos e dispostos de uma forma que parecia destinada e ficou contemplando, por alguns segundos, aquela maravilhosa obra, que se tinha formado. Quando voltou à realidade, lembrou-se que tinha que ir ao Olimpo, o mais rápido possível.
-Pai, pai, já sei o que os entristece – disse Hércules, quase sem ar por ter vindo a correr.
-Diz, filho.
-A falta de uma paisagem bonita, perfumada e alegre, que os faça sentir felizes.
-Mas eles sempre tiveram aquela e nunca se queixaram.
-Talvez nunca se queixaram porque nunca tinham contemplado o que os rodeava.
-Pois. Provavelmente. Mas como é que eu vou resolver isso?
-O pai devia convocar outra reunião com todos os deuses, pode ser que eles lhe dêem alguma sugestão.
-É isso mesmo que eu vou fazer, e é já! Se vires o Hermes quando saíres, diz-lhe para ele vir até aqui o mais rápido possível.
-Está bem.
Por coincidência logo à saída estava Hermes que recebeu as ordens e convocou a reunião.
Já com todos sentados à volta da mesa, Zeus deu início à sessão.
-Hércules foi à terra e conseguiu descobrir o motivo da tristeza dos mortais: Não estão satisfeitos com a paisagem que têm.
-Ora essa, sempre tiveram aquela e nunca se queixaram! – exclamou Artémis.
-Pois não, mas agora observaram bem o que os rodeava e concluíram que não lhes agradava. – esclareceu Zeus.
-E como é que estás pensando resolver isso?
-Ainda não sei, por isso é que vos chamei para esta reunião, para saber se alguém tem alguma ideia.
Hércules colocou logo o dedo no ar para falar:
-Quando fui à terra tropecei numa pedra e embati contra uma loja de vasos. Um deles caiu e partiu-se, como é óbvio. Surpreendentemente os cacos formaram, no chão, uma agradável imagem aos meus olhos. Estavam todos partidos em formas geométricas e dispostos de uma maneira, não bem simétrica, mas especial.
-Sim…? Essa lengalenga toda foi para concluir o quê? - perguntou Zeus.
-Acho que se eles tivessem uma paisagem com formas geométricas, ou quase geométricas, iriam gostar pois provocaria uma agradável sensação.
-É uma solução possível mas eu de formas geométricas, não percebo nada. Isso tem a ver com a matemática, não tem?
-Tem, sim senhor. – respondeu Astibal, deus da Matemática - se quiser eu posso ensinar-lhe algumas coisas sobre essa matéria, para depois poder usar na paisagem dos mortais.
-Não preciso que me ensines porque tu próprio vais projectar a paisagem deles. Projectas, que eu depois aplico.
-Pois sim, agrada-me a ideia, já há algum tempo que não tinha grande ocupação. Vou começar o meu projecto de imediato.
Quando Astibal concluiu a sua obra-prima mostrou a Zeus e este encarregou-se de tudo o resto. O projecto estava maravilhoso. A paisagem seria coberta de flores amarelas e muito perfumadas com as suas pétalas geometricamente dispostas, caules muito verdes e brilhantes que qualquer mortal ao contemplar semelhante paisagem, jamais ficaria indiferente. O projecto também previa a aplicação daquele padrão de flores amarelas noutras tonalidades e aromas.
Gonçalo Goulart, 8.º B
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Escreve algo de jeito